A culpa também é sua

 

Ontem li esse texto, que me fez chorar ao infinito e além umas trinta vezes. E tem tanta coisa que me fez pensar, que não ia sossegar enquanto não desabafasse por aqui.

Para os que não sabem, “I’ve been there, I’ve done that”.

Sempre amei os animais. Desde pequena era uma luta pra ter animais em casa, e sempre ganhei as pequenas batalhas com meus pais. Até eu sair de casa pra poder ter meu próprio cachorro grande. E desse dia em diante, amar os bichos virou mais que um post na internet.

Ganhei o Apolo (meu primeiro cachorro – um Dogo Argentino) com quarenta dias de idade. Apaixonei-me por raças grandes e “bravas” instantaneamente. Virei o tipo de protetora que é defensora das raças mais rejeitadas. Sabia que tinha controlar aquela bolinha de pelos que ia virar um mini-pônei, e por puro amor, aprendi a adestrar.

Com poucos meses ele ficava, sentava, deitava, rolava, dava a patinha, andava sem coleira e ainda fazia uns truques extras pra ganhar mimos de quem o visse. Sempre foi uma moça. Todo aquele tamanho, e nunca fez mal à uma formiga. Só mais uma prova concreta que não é a raça, e sim, como a gente cria que define a índole de TODO E QUALQUER cão.

Mas eu sentia que fazia pouco, e fui atrás do CCZ (centro de controle de zoonozes) da minha cidade. Virei amiga do dono, passei a auxiliar em resgates e fazia o que podia para evitar as sessões de eutanásia dos pobres bichinhos. Nunca vou esquecer o dia em que ele me ligou dizendo que tinha um bullterrier e uma pitbull prenha pra resgatar que não aceitavam que homem nenhum chegassem perto. EU fui a heroína aquele dia. Salvei ambos, levei pra casa, cuidei até nascerem os filhotes, amansei as feras e arrumei lar para TODOS eles. NADA, nunca pagará essa sensação.

O que mais eu fazia? Ia até lá, escolhia um dos “rejeitados” que em breve seriam mortos se não encontrassem um novo lar, levava pra casa, passava uns meses adestrando-os e procurava um adotante. Consegui salvar uns oito cães assim.

CLARO que não foi suficiente. Uma das conversas mais tristes que já tive na vida foi com o dono do CCZ, onde discutíamos em prantos o que podia ser feito. Porque as pessoas não conhecem o CAOS que é um canil de CCZ. Não entendem que não tem espaço. Não tem como dar tratamento VIP para os cachorros e gatos que ali se encontram: e a realidade dói de assistir.

São dezenas de cachorros amontoados e acumulados no mesmo espaço físico, dividindo o mínimo de comida necessária para sobreviver, onde também dormem e fazem suas necessidades. Os canis são divididos entre machos e fêmeas, e são limpos e alimentados 2x por dia. Quase todos os dias algum cão se encrenca com outro, não é raro se matarem durante a noite. Os menos adaptados, mais doentes ou mais velhos não tem escapatória: são forçados a ir pro céu mais cedo.

Lembro de um dia ele me ligar chorando, dizendo que não aguentava mais matar cães. Que aquilo ia acabar com ele, porque ele tinha escolhido fazer a diferença, e aquele lugar o fazia sentir justamente o contrário. E que ele sabia que não adiantava: talvez se ele fosse embora, a pessoa que o substituísse fosse ainda pior, e ele não queria correr esse risco. Chorávamos juntos, sem saber o que fazer.

Eu acredito, que mesmo em passos de formiga, posso fazer a diferença.

Existem soluções mais práticas, a longo prazo? CLARO que existem.

A começar pela conscientização de cada um: em microchipar seu animal. Em castrá-lo. Em adotar ao invés de comprar. Em divulgar quando algum deles precisa de ajuda. Em incentivar seus amigos a conhecerem e doarem aos CCZs. Em ser proativo, levantar a bunda do sofá ao invés de julgar quem aperta o botão da câmara de gás.

Porque a culpa é toda nossa.

 SaiDaqui!

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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