Abraço casa

Eu achava que casa era um conceito literal e palpável, até conhecer seu abraço.

Apesar da conexão instantânea que tivemos naquele lugar cheio de gente barulhenta e divertida que fazia o tempo andar mais rápido a cada risada que dávamos, eu lembro como se fosse ontem dos nossos papos sérios e profundos que fizeram o tempo parar e me deixar tirar fotos na memória daquilo que só eu e você sentimos enquanto todos dançavam, levemente embriagados.

A pena é que infelizmente eu demorei tempo demais pra me dar conta de que sempre foi você…

Era pra você que minha mente me levava nos sonhos mais lindos e abstratos de um futuro que aquela jovem garota iludida que fui achava que podia controlar e planejar.

Era pra você quem eu ligava pedindo colo, cafuné e uma bebida forte.

Era primeiro sempre pra você quem eu queria contar novidades boas e conquistas novas.

Era com você que eu me sentia completamente à vontade pra ser eu mesma, sem amarras ou julgamentos pelos devaneios mais longos e brincadeiras mais idiotas.

Era você quem topava todas as minhas loucuras e estava sempre por perto, pra dividir a comida, a carona, a risada e a ressaca.

Era de você que minha mãe vivia perguntando “como quem não quer nada” se éramos só amigos.

Era com você que a noite terminava quando o sol amanhecia e eu não entendia porque ainda ficava um sabor levemente amargo depois que você me deixava em casa e a solidão entrava comigo.

A gente acha que certas coisas vão ser pra sempre e que nada pode mudá-las, mas essa é uma presunção grotesca que dá uma rasteira quando a gente menos espera.

E eis que agora o tempo passou, a vida aconteceu, nossos caminhos se distanciaram e tudo ficou mais difícil.

O dolorido soco na boca do estômago da epifania que perdemos (perdi) nossa chance é recorrente: sempre e quando eu penso que queria mais da vida como um todo.

Eu já entendi que vou me arrepender pra sempre de ter sentido medo de quebrar o que já tínhamos e inventado desculpas idiotas para não tentar ser feliz ao seu lado.

Eu só queria que você soubesse. Agora eu fico aqui, esperando o tempo curar tudo que eu não tive coragem de viver, ou pelo menos acalmar meu coração na esperança de que talvez um dia o mundo dê mais uma de suas voltas inexplicáveis e seu abraço volte a ser minha casa, literal e figurativamente.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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