Brilha, brilha, estrelinha

Eu não sei o que é mais cruel: ficar com um bebê sem vida dentro de mim por até 30 dias para esperar o processo natural de perda ou ser colocada junto com mães felizes que acabaram de ter seus bebês para fazer o procedimento de retirada.

Precisamos normalizar falar sobre abortos espontâneos, decisões difíceis e a falta de sensibilidade/humanização da maioria dos profissionais de saúde nessas horas.

Comecemos com o incômodo de todos os comentários irônicos, julgamentos e ameaças (quase promessas) de tudo que daria errado por eu ter engravidado tão pouco tempo após o parto do Dante, mesmo dizendo que eu estava tomando remédio.

Passemos pela frieza da maneira que as notícias foram dadas em um período de uma semana: o descolamento, o tratamento e a ausência de batimentos do bebê, nessa ordem.

E agora cá estamos, convivendo com os mais variados tipos de conselhos não solicitados: de que não devíamos ter contado sobre a gestação tão cedo, de que “isso é normal”, de “ainda bem que foi no começo” e tantas outras insensíveis frases.

Eu, do fundo do meu coração de mãe em luto, venho esclarecer algumas coisas:

1. O tabu que a nossa sociedade vive não permite que as mulheres que passam por abortos espontâneos falem sobre isso ou vivam seu luto abertamente. Esse conceito de só contar sobre a gestação após o primeiro trimestre vem dessa ideia errada de “esconder” caso haja um aborto – que pasmem, acontecem naturalmente com quase 25% das gestações.

2. Apesar de ser algo “normal” (uma mulher pode ter até 3 abortos naturais sem causas aparentes dentro da normalidade), isso não diminui em nada o fato de que dói demais perder um filho, não importa quanto tempo ele tenha vivido dentro do nosso útero. A empatia é ouro nessa hora.

3. Não sugira um “prazo” para novas tentativas: essa decisão é pura e exclusivamente do casal, não lhe diz respeito.

4. Se não for pra acolher, escolha o silêncio.

Por fim, saiba que papai e mamãe te amaram MUITO nessa passagem curta pelo mundo, estrelinha. Nunca te esqueceremos 🖤

PS: à todas as mulheres que já passaram por isso, eu te vejo. Eu te sinto. Não se culpe, não tenha vergonha de falar sobre isso. Seu luto é seu direito.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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