Ele eufemismo, ela hipérbole

Feito um Eduardo e Mônica mal cantados, eram eufemismo e hipérbole.

Enquanto ele passava meses achando que tava tudo bem, ela se gritava por dentro e sangrava em tédio. Queria mais e já havia perdido pra imaginação nas formas de pedí-lo. Ele abaixava a cabeça, amenizava a situação dizendo um “tudo bem” meio rouco e ia dormir, como se nada estivesse acontecendo. Ela só queria que ele gritasse.

Exagerava histórias, amores e tinha mil lembranças de coisas engraçadas e amigos diferentes pra contar, enquanto o outro não tinha nada. Compartilhava demais, na esperança de descobrí-lo melhor. Ele só ouvia. Tinha poucas e repetidas histórias, sempre sem muita emoção no tom. Frustrava-se na falta de emoção ao mesmo tempo que invejava a estabilidade que a vida escolheu entregá-lo.

Batia no peito pra dizer tudo que já tinha conquistado. Sempre pareceu uma tia velha falando de todas as rasteiras e peças que a vida a pregara. Ria, chorava e fazia emocionar sempre que falava de amigos perdidos, amores que não deram certo, problemas com parentes, trabalhos ingratos, chefes engraçados ou mudanças constantes. Subia o tom da voz em orgulho sempre que falava da família e queria sempre estar perto que até o incomodava. Forçava-o a ver sua própria, já que nunca ligava por pura vontade. Nunca vai entender a falta de laços que ali existia.

Nunca beijaram na chuva. Ele insistia no guarda chuva enquanto ela queria encharcar-se. Achava engraçado a maneira que as pessoas os olhavam, pensando que não combinavam. Talvez estivessem certos, era só o sentimento que cegava.

Tomava whisky e cervejas maltadas diariamente, só porque gostava do amargo que remetia ao que  a vida lhe causara durante o dia. Sabia que ia adoçar o paladar com sexo, depois. Não tinha problema algum em beber sozinha, rasgar as roupas, dançar na chuva, chorar sem motivo ou parecer maluca. Ligava tão pouco para o que ele pensava que ser ela mesma não bastou. Era intensa demais, o alegava.

Exagerava nas hipérboles que ele insistia em transformar para eufemismos. De tanto exagero e falta, tornaram-se nada. Ela não o completava, ele não bastava.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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