Heart on a sleeve

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Sabe, tem gente que nosso santo bate de cara: dois segundos e um sorriso bastam para decidir que teremos afinidade. Parece uma onda de energia recíproca que a gente só sente e concorda via transmissão de pensamento.

Com você foi exatamente assim, mas você já sabe dessa parte. O que eu nunca te contei é sobre o momento EXATO em que eu me apaixonei por você.

Já tínhamos algum tempo de convivência, além de muitas cervejas, histórias e risadas acumuladas em nossa milhagem de viagens na maionese. Você era meu sinônimo de risada garantida e com quem eu podia contar para reclamar da vida ou xingar alguém sem filtro. Minha cia da marmita no almoço, do café da tarde e às vezes do happy hour. Mas nunca mais que isso. Das 18h em diante vivíamos nossas vidas particulares e distantes, das quais sabíamos apenas o básico/necessário para conversas de corredor, e estava tudo bem.

Até que no meio de uma manhã qualquer, seu telefone tocou e sua feição mudou completamente. Ainda atônito pelo tom aflito no outro lado da ligação, você usou todo o auto controle que tinha dentro de si, respirou fundo e, ao desligar, me disse: “Minha mãe precisa de mim. Avise o pessoal, por favor?”

E foi assim, nesse momento de aflição máxima do seu coração, em que eu me apaixonei pelos seus olhos. Pra dizer a verdade, acho que me apaixonei exatamente por tudo que eu conseguia ler neles sem você precisar dizer uma só palavra. Num timming tão errado e numa situação tão delicada, eu soube o quanto me importava. O quanto sua calma fingida basicamente implorava por um abraço enquanto você sentia medo de demonstrar seu medo.

Logo você, sempre tão prático e direto, sem tempo ou saco pra sentir e demonstrar, desmoronou por dentro e só eu vi. Uma vulnerabilidade tão nua e um grito de socorro tão silencioso que confesso, quem quis gritar fui eu.

Entendi em fração de segundos o motivo do seu escudo emocional: você havia se doado demais e apanhado demais da vida para viver wearing your heart on a sleeve. A cara fechada, o físico preparado e a praticidade extrema eram apenas o resultado de tudo que lhe fizeram. É que sua parte mais linda e mais pura estavam ali, despidos e crus na essência para quem soubesse enxergar, e você sabia o quanto isso era perigoso.

O problema é que eu vi. E quando meu coração sente o clique, meu bem, não há nada no mundo que me faça desistir de tentar.  Bastou um segundo de guarda baixa para eu ter certeza que queria fazer feliz aquele cara ali de dentro.

Não sei se você sabe, mas desejei sentir toda aquela dor por você. Desejei estar presente, ajudar de alguma forma, sentir-me útil, apesar de saber que não havia muito o que eu podia fazer. Limitei-me a desejar-te boa sorte e colocar-me à disposição para qualquer coisa. Quando lhe ofereci emprestar meu carro, saiba que no fundo estava lhe oferecendo muito mais que isso: era meu coração numa bandeja.

Susto passado, coração acalmado e quando você voltou, ambos sabíamos que nada mais seria “só” como antes entre nós. Talvez você tenha sentido o mesmo. Talvez só tenha lido meus olhos.  Entre o medo de estragar o que tínhamos e o caos do que eu tinha a dizer lhe causaria, baixei também meu escudo de mulher empoderada e devoradora de corações pra lhe dizer que era amor.

Se toda história tem um lado bom, agradeço ao evento indesejado por ter me apresentado o real você. E saiba que, todos os dias desde então, eu me apaixono por tudo que suas boca não diz, mas seus olhos insistem em me entregar sem você perceber.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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