Não se culpe, garota!

Não se culpe, garota: o medo é um fantasma silencioso e gente passa a vida toda ouvindo que é vergonha senti-lo.
Pior ainda pra nós, as solitárias, independentes e donas de si: chega a ser debochadamente inadmissível para o mundo lá fora que possamos permitir sentimentos que saiam à luz do dia.

Mas, me conta uma coisa: você consegue se lembrar de um ato de coragem que seja sem que exista vulnerabilidade e medo? Pois é, nem eu.

O medo (dadas suas devidas proporções) é lindo e inspirador: não à toa tantos poetas descrevem amor com borboletas no estômago, tontura ou até mesmo embriaguez. Ou vai me dizer que você nunca reparou que o medo nos empurra a tomar grandes decisões?

Para e pensa: como você se sentiu antes de dar o primeiro beijo? Antes da primeira vez? Ao chegar no primeiro dia de um trabalho novo? Em, literalmente, qualquer momento antes de uma grande decisão da sua vida?

Exato. O medo transforma.

E, perdoe-me se parecer ridículo, mas eu gosto dele. Claro que só posso falar de minha experiência, mas sempre e quando me lembro de momentos cruciais, tenho memórias vívidas de sentir-me viva de verdade, uma intensidade quase palpável de tão brilhante, sabe? Aquela onda de invencibilidade, uma dose extra de coragem no peito, quase como aquele momento antes da invocação do Capitão Planeta ou dos Rangers morfarem (ok, ok, referência ruim – mas você entendeu).

Pior ainda se você, assim como eu, foi criada por uma geração de mulheres recatadas, ouvindo sempre que devemos engolir à seco, aceitar qualquer coisa e portarmo-nos decentemente, independente do comportamento machista alheio. Eu te pergunto: quando foi que sentir ficou feio, ou expressar-se virou pecado?

Quanto de você foi reprimido pra caber numa caixa? O que você engoliu calada quando sentiu vontade de gritar?

Eu demorei trinta e dois anos pra entender porque eu destoava tanto do mundo, mesmo com a resposta bem debaixo do meu nariz: era o preço de sentir. De permitir. De ser eu mesma. De admitir vulnerabilidade. É que o silêncio nunca me serviu.

Teve seu preço, sim. Mas olhando por alto numa rápida recapitulação, valeu à pena. Eu tive uma jornada incrível até aqui: cheia de medo, dúvida, mudança e acima de tudo, coragem. Hoje consigo ver que ser vulnerável e honesta só me fez mais forte. Mais independente. Mais dona de mim e domadora dos meus medos todos.

E, se eu pudesse te dar um conselho ele seria “não se culpe, garota”. Sentir não é pecado: abrace seu caos, aceite seu todo.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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