Náufrago

navio

Leia esse post ao som dessa música.

Desculpa se o que eu tenho pra dizer soar levemente raivoso: é que tenho me afogado em silêncio há tempo demais pra continuar sorrindo amarelo e fingindo que não me importo. É que descobri (embora um pouco tarde) que quem ama por dois se desama por completo, e assim tuas migalhas como num passe de mágica passaram a não mais me alimentar.

E eu descobri que tenho fome. De presença sem culpa, de toques nada comedidos e de olhares sem pudor. De abraço longo sem olhar pros lados, de beijo quente, público, molhado, demorado. De cinema, mão dada, jantar romântico e cafuné clichê no sofá. De café na cama, rotinas que se tocam e maratona de séries num domingo chuvoso. Da tua mão no meu cabelo, do teu sorriso no meu decote e da sua imaginação fértil capaz de me despir sem ao menos me encostar.

Por você eu me apeguei ao vago e ao incerto, tentando encontrar um fio de esperança em cada detalhe das meias verdades desconexas que você contava pra não dizer nem sim nem não. Eu deixei pra lá todas as conversas sérias que não conseguimos ter, me enganando por vezes que ainda não era a hora de fazê-lo. Mas sabe, eu não sou dessas que se acostuma em deixar pra lá.

O barulho do silêncio me grita por dentro e dilacera as entranhas cada vez que tento desistir de esperar essa sua indecisão e cair fora do náufrago chamado “nós dois” que decidi entrar por pura e espontânea vontade.  Pular daqui e sair nadando pra qualquer rumo longe do teu parece o mais sensato a ser feito para qualquer pessoa que olhe de fora e tenha um pouco de racionalidade na vida – e olha que eu sempre fui dessas regidas por razão.

Aí eu lembro que o que está em jogo é a possibilidade de um nós, e toda essa teoria sensata cai por terra ao recordar meus lábios do sabor que tem sua boca quando encosta na minha. Do arrepio da minha pele cada vez  que seus dedos passeiam delicados e atrevidos pelo meu corpo que exala desejo toda vez que te vê.

De como você sabe exatamente como me encarar e a intensidade do meu sexo favorito. Do gozo sincronizado, de você me encarando e sorrindo sempre que diz que me ama, suado. De como quando existe presença, as coisas são leves, fáceis, intensas e valem qualquer espera.

E é aí que eu me vejo no limbo do não saber, na inércia do não ser. Fico à deriva da sua vontade nunca explícita, a mercê do meu coração, indeciso e bandido, que sempre escolhe sofrer em silêncio na vã esperança de um dia você magicamente abrir os olhos e decidir me fazer porto seguro.

No fundo, o que me consola é estar aqui pra dizer que vivi e senti tudo isso. Que tenho o peito aberto e coração na mão, all in na mesa e consciência limpa de ter dito tudo que tinha pra dizer.  E “se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer: o que eu ganho e o que eu perco, ninguém precisa saber”.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

compartilhe esse post