Quando a prioridade é passar vontade

Não, melhor: na verdade, eu e minhas prioridades sempre nos demos muito bem. O problema eram as pessoas em volta.

Essa semana rolou na internet um teste de idade mental que trouxe à tona (mesmo antes de eu fazê-lo, apesar de já imaginar o meu resultado) todas as decisões importantes que tomei na vida, bem como o preço e o peso delas.

Nunca me arrependi das escolhas que fiz, mas hoje, tenho consciência que elas foram importantes para meu amadurecimento mental, e que eu desde sempre, tive que conviver com aqueles que ainda não tinham as mesmas preocupações que eu.

Lembro-me claramente das críticas constantes de amigos quando aos 17, eu já não podia ir em shows caros, baladas extravagantes ou noitadas longas em dias de semana. O dinheiro que eu ganhava não vinha dos meus pais, e se no fim do mês ele não desse, eu não teria pra onde correr: era pagar as contas ou pagar as contas. Os amigos que invejavam minha independência de morar sozinha mal sabiam os apertos e as vontades que eu passava para pagar o preço dessa tal liberdade.

Quando o assunto era relacionamento, aí que a coisa piorava: porque era fácil morar com os pais e não querer fazer planos da vida, enquanto namorava a guria que já morava sozinha e dividia as contas com ele. Economia no motel e fuga da casa dos pais quando quisesse? Ah, que beleza!

Beleza uma ova: tive que aprender a mandar embora quem não me agregava em nada nos planos e prioridades. Sempre que a maturidade mental não andava junta, era término na certa. E assim a vida maltratou sempre: morando sozinha, passando perrengue financeiro, mudando de emprego, mudando de cidade, mudando de casa, vendendo tudo que tinha, namorando de novo, mudando de cidade de novo, indo pra outro estado, casando, comprando apê, separando de novo, mudando de carreira, mudando de estado de novo, num looping infinito de vencer dificuldades.

E aí, fazendo a retrospectiva da vida, percebi que a tristeza é só um estado de espírito entre uma felicidade e outra, e que o misto de todas as pessoas que conheci e tudo que já vivi são infinitamente maiores e mais gratificantes do que os shows que não fui ou as coisas que tive vontade de fazer. Todo o sofrimento virou experiência.

Decidi que eu tenho a escolha de, aos 26, ter uma idade mental de 37, e gostar desse resultado. De saber conversar de igual pra igual e falar sobre histórias de vida para qualquer pessoa, em qualquer idade. De achar minha própria trajetória inspiradora, sem parecer narcisismo ou egocentrismo. Porque só eu estava lá.

Tenho o maior orgulho de dizer que passei vontade: de comprar o que quisesse no supermercado, de viajar com a galera no fim do ano, de fazer aquele curso de paraquedismo, de comprar as roupas que eu gostava na vitrine, de ter o cachorro dos meus sonhos, de poder pedir arrego aos pais e de ter um colo pra chorar.

Mas as coisas passam, se ajeitam e a experiência ensina que se você tem as prioridades certas (mesmo que às vezes elas pareçam erradas), elas serão recompensadas. Eu não tenho roupa de grife, não como em restaurante chique, não sou paraquedista e nem viajada pelo mundo: mas eu tenho a minha história pra contar, e contar com o maior orgulho de dizer que venci sozinha.