Só escrevia quando transbordava

Odiava confessar, mas adorava a inspiração que a solidão lhe causava às vezes.

Parecia uma máquina de criar textos românticos, histórias inventadas, amores não existentes. Sentia-se segura no mundo de sonhos que fazia colorido em volta de si sempre que o dia ficava em tons de cinza.

Era só pra ela que ele existia. Talvez se fosse pensar bem, ela nem queria que ele existisse no mundo real. Porque ali ele necessariamente teria defeitos e provavelmente não a faria feliz assim, como fazia nas noites de sono calmo e tranquilo.

Talvez o mais legal de tudo era o fato de ele não existir. Porque assim ele podia ter pra ela, uma fisionomia diferente por semana. Um trejeito diferente por dia, e uma surpresa apaixonada a cada manhã.

Sua mente viajava em velocidades tão grandes que as mãos já não acompanhavam. Engasgava palavras contraditórias, cheias de fervor e sentimento que lhe transbordava. Gostava de colar no papel todo aquele amor que tinha guardado no peito e ainda não sabia pra quem mostrar.

Gostava de inventar caminhos a trilhar. Em poucos minutos, já tinha sido mãe solteira, ficado pra titia ou se divorciado 4 vezes. No fim das contas era grisalha, ainda cheia de amor pra dar.

Sempre se imaginava com brilho nos olhos e sorriso nos lábios. Era seu maior desejo ficar assim pra sempre.

Não quer dizer que ela não amava a vida real: pelo contrário. Era dali que surgia tanta imaginação. Sabia que ia encontrar alguém especial um dia.

Enquanto isso, fazia textos em doses homeopáticas e granuladas, porque achava que nem o papel aguentaria impresso em si tanto sentimento. Só escrevia quando transbordava.

O problema é que transbordava quase sempre. De amor, de esperança ou de solidão.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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8 comentários

  1. profundo esse. Conta comigo além do papel qdo transbordar.

  2. Era só pra ele que ela existia. ;*

  3. Quanto mais se está cheio de sentimento mais transborda, fica mais bonito e a mim alivia bastante. Gostei!

  4. Conhece a Teoria do Palhaço? A teoria diz que só quem conhece a tristeza é capaz de fazer rir. Neste caso, a tristeza acaba sendo um motivador para se buscar o sentimento oposto. Por isso que a solidão é inspiradora, pois nos faz “viajar” em busca do sentimento oposto. 🙂

  5. só porque eu sempre passo aqui!! E digo, SEMPRE! E hoje transbordou a vontade de dizer, que adorooo seu blog, baby!!! =****

  6. profundo esse. Conta comigo além do papel qdo transbordar. (2)

  7. Esse é o “mal” de quem escreve: demora a sair, mas quando transborda, os textos vão fluindo, fluindo, e quando se vê, ou o texto está enorme, ou já saíram vários de uma vez. E é uma delícia quando acontece.

    PS: vou passar a cobrar direitos autorais por fazer contos tão parecidos com a minha vida! HAHAHAHA

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