Sobre o sexo que nunca faremos

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Não adianta, menino: você vai ser sempre de alguém que não meu e eu vou sempre ser de alguém que não sua. E por mais que a gente tente fingir que tá tudo bem, que somos superiores e evoluídos a tudo que diz respeito aos chamados relacionamentos maduros, o coração nunca vai entender porque a gente perde tanta chance de ser feliz juntos.

Porque toda vez que a gente se vê, fica difícil disfarçar a empolgação num simples abraço de oi e um beijo na bochecha já é capaz de nos fazer corar, refletindo a esperança esquisita de que um dia o destino se encarregue de errar a pontaria e encostar sem querer no canto da boca. Cada palavra que trocamos parece ter um tom de duplo sentido, de vontade contida na esperança que o outro note os pensamentos apimentados sobre o que estaríamos realmente fazendo se não fôssemos politicamente corretos e socialmente comprometidos com um futuro que jamais seria nosso se fôssemos algo mais do que somos hoje.

Nosso problema é saber. É ter certeza que no fundo, seríamos o perfeito caso que tem tudo para dar errado. Seríamos o próprio caos e juntos, transformaríamo-nos naquele tipo de gente louca, ciumenta e possessiva que sempre criticamos às escondidas. E ainda assim, dói saber que nunca seremos um só. Dói pra caralho saber que sempre haverá um “se”, uma chance perdida, uma possibilidade não tentada.
E essa ânsia mútua que temos em dominar provavelmente só daria certo entre quatro paredes. Nunca tive dúvidas que provaríamos o melhor sexo do mundo: aquele misto de libertar toda a vontade contida há anos com a raiva em saber que não seríamos um do outro pra sempre. Aquela tara presente em todo o sexo de reconciliação sem ao menos termos brigado antes.

O cheiro sem máscaras, as vergonhas e tabus todos deixados do lado de fora do quarto. Os olhos que não se desviam, que se arregalam, que se conversam sem uma única palavra ser dita. O toque que arranha, que quase machuca de tão forte e intenso que precisa ser: a fantasia tornada realidade com certeza renderia alguns hematomas leves, apenas a cunho de ter certeza que não era mais uma vez a imaginação tomando conta da imaginação e traindo os sentidos. Sua mão em mim, minha boca em você. O cabelo emaranhado, a cor das nossas tatuagens levemente afetadas pelo escorrer do suor fruto de um prazer quase proibido de tão gostoso. O eriçar de mamilo que o leve raspar do teu peito causaria. O arrepio que a minha boca no teu pescoço causaria por inteiro. O gosto, o gozo, o ápice. E o repeteco.

O gemido do novo orgasmo e a vontade de que o tempo parasse. Que a vida se resumisse num looping de noites de sexo. Que todos os outros problemas que enfrentaríamos no mundo lá fora não nos estapeassem na cara, como uma ressaca brava que a vida causaria ao nascer do sol, não existissem.

Por ora, seguimos assim: desejosos e ingratos por sermos ambos tão complexos. Felizes porém, pela consciência e imaginação que temos.
E esperando, lá no fundo (embora sempre negando), que um dia o mundo dê voltas. E que toda essa nossa complexidade se torne, do dia pra noite, algo muito mais simples do que gostar de chocolate.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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