Whisky, quatro pedras de gelo

cozinha

Leia escutando esse som.

Mais de 20h e eu recém saí do trabalho. Que dia longo, meu Deus! Entrei no carro e respirei fundo. Acho que já estou parado aqui há uns bons minutos, mas foda-se. Preciso desligar. Quero ser meu melhor eu. Por mim. Por ela. Por nós dois.

Liguei o rádio e o shuffle ajudou: claro que aquela música que faz ela dançar como se ninguém estivesse olhando começou a tocar. Só de imaginar como ela ergue os braços, fecha os olhos e deixa o cabelo cair pelo rosto, o dia se transforma em outro. Apenas um dos motivos que me fizeram esperar vinte dias só pra buscar do outro lado da cidade aquele vinho diferente que ela deixou escapar sem querer numa conversa entre amigos que queria provar um dia.

Não que hoje seja um dia especial, mas a gente tem disso de comemorar qualquer coisa, surpreender quando dá vontade e confesso: tem sido incrível. Às vezes dá vontade de se beliscar, só pra ter certeza que ela é minha.

Até a mochila deixei no carro, porque hoje não há cliente ou dinheiro que me faça desviar do que vim fazer aqui. Só de entrar no hall do prédio eu sei: aquele é o cheiro da comida dela. Jesus, e como ela cozinha! É como se tudo que ela faz tem assinatura. O cheiro, o jeito, o gosto. É tudo tão carinhosamente particular e peculiar que talvez eu tivesse me apaixonado ainda sem vê-la.

Toco a campainha e sinto aquele misto de ansiedade e tesão adolescente do primeiro encontro. Dou risada em silêncio do meu próprio pensamento e quase caio de costas quando a porta se abre: talvez ela nem saiba, mas esse cabelo molhado e esse pé descalço me acertam em cheio. Esse jeito meio desleixado de deixar a alça da blusa cair e não se preocupar em arrumá-la se mistura no perfume doce que ela sempre usa e me excita instantaneamente. Ela está sem sutiã? “Oh, meu Deus, obrigada por isso”, é tudo que consigo pensar.

Eu abro meu sorriso mais largo e a gente se beija como se fosse a primeira vez, como todas as outras vezes que nos beijamos antes. A pele dela tem um jeito de estar sempre quente e macia e nosso beijo é sempre intenso, com línguas que parecem ser sincronizadas, como se tivessem ensaiado a vida toda pra isso.

Ela sorri e ajeita o cabelo ainda meio sem graça, me estendendo um copo com meu whisky favorito, quatro pedras de gelo. Acho graça dos detalhes pensados por nós dois e entrego a garrafa de vinho como quem diz que ela também pode se deixar ser agradada de vez em quando. Adoro essa expressão espontânea de surpresa que ela faz quando fica feliz.

Caminhamos rumo à cozinha e lavo as mãos para começar a ajudá-la. Sei que não ajudo muito porque me perco observando como ela joga o peso do corpo pro lado direito e inclina levemente a cabeça pra esquerda quando se concentra provando os sabores, como se fosse a receita mais secreta do mundo. Perco a fome, a lógica e a razão para avançar rumo ao seu pescoço, ali tão perto e tão exposto pelo cabelo recém preso, descuidadamente.

Basta encostá-la pra querer mais. O beijo no pescoço avança rápido para um abraço mais apertado, propositalmente fazendo-a sentir minha vontade, agora inegavelmente palpável. Percorro minha mão por todo seu corpo, como se tentasse decorá-la com pressa, para usar a lembrança qualquer momento em que fechar os olhos e bater saudade no dia seguinte. Desligo o fogão e carrego-a pro quarto, deixando no corredor um rastro de roupa e desejo.

Deito-a na cama de calcinha, e paro por um segundo pra ter certeza que ela é minha. Esses olhos de Capitu, cigana oblíqua e dissimulada agora quase me imploram para ajoelhar e fazê-la sentir prazer. Provoco-lhe com barba e língua entre as coxas, enquanto ela se contorce, gemendo baixo por encontrar-lhe o sexo.  Ela goza fácil e isso me enlouquece. Meu impulso fala mais alto e aproveito-me de um beijo na boca para penetrar-la enquanto abafo um gemido mais alto (meu, e dela). Seguimos por mais meia hora nesse jogo de tortura provocante e vontade já não mais contida em controlar o sexo, o ritmo, o tesão e o sentimento até percebermos que é burrice achar que a essa altura, ainda tínhamos qualquer controle. Ela geme alto e sem pudor, de corpo contorcido, mão fechada entre lençóis, cabeça levemente jogada pra trás e me aperta entre as pernas de um jeito que me deixa sem alternativa, senão acompanhá-la no gozo, no gemido e no suor que agora escorre com mais intensidade entre nós.

Ela se aninha no meu peito, reclamando de mentira sobre qualquer detalhe da bolonhesa que já está fria na cozinha, enquanto eu me perco pensando no tempo da vida que perdi até aqui, e em como agora a própria vida parece caprichar, só pra compensar.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

compartilhe esse post